terça-feira, 31 de agosto de 2010

ANDREAS LARSSOS AND ALEX DUNSTAN

O ESTRANHO



O som era alto suficiente para estourar meus tímpanos. A dor rasgava meu estomago. Dor essa, ardente, que durou alguns segundos. Depois a calmaria. O calor iniciou lentamente subindo por minha coluna vertebral. A visão foi se desligando, assim como os outros sentidos. A claridade tomou conta, luz branca refletia com intensidade. Em minha cabeça, atordoada, a única coisa em que me agarrava era que havia morrido. Não imaginava o que teria acontecido. Não sentia nada, apenas enxergava a luz branca por todos os lados. Com os sentidos apagados e sem sentir dor, percebi que algo agora divergia. O branco ficou amarelado, o amarelado virou vermelho e do nada o vermelho escureceu.





A luz retornou, assim como a dor. Sentia minhas pernas latejando. A dor ia e voltava mantendo o ritmo. A diferença na luz agora era gritante. A cor branca havia se transformada em azul. Mas com uma tonalidade mais real. Identifiquei o teto de um quarto. A cama era confortável e logo percebi que estava em um hospital, pois, ao meu lado, havia outros leitos, alguns vazios.





Ela era linda, cheirava a rosas e tinha uma voz perfeita, me acalmava. Achei estranho, pois parecia que ela me conhecia. Adoraria ter conhecido aquela que era a mais bela de todas. Nunca fui de muitas garotas. Algumas das poucas que pude me aproximar eram garotas de programa. Essa, sem duvida, tinha a beleza que qualquer homem sonharia em desejar.





Minha voz não saía. Apenas escutava ela pronunciar algumas palavras ao meu encontro.





- Querido! Senti tanto medo. - uma lagrima escorreu por seu rosto. - Pensei que iria te perder.





Não esperava ouvir isso. Ela pensa que eu sou seu marido ou algo parecido. Que estranho! Ela deve estar maluca.





- O médico falou que você pode me escutar. Mas que pode ter perdido a memória. Isso tudo é passageiro. Você vai melhorar.





Assim o tempo passou e eu fui melhorando. Minha voz ainda não havia voltado. Os médicos acreditavam que isso era questão de tempo. Já podia caminhar e os médicos me liberaram.





- Vamos, querido! Não vejo a hora de chegarmos em casa.





Tudo estava estranho e confuso. Ela realmente pensava que era seu marido. Olhei para o lado e pela primeira vez, depois do despertar, me deparei com um espelho. Nele alguém completamente desconhecido. O olhar confuso me atormentou. Neste momento senti um calafrio e lembrei de tudo.





Estava voltando do trabalho. Era terça feira. O ônibus da empresa havia me abandonado no meio da estrada próximo de minha casa. Andava sentindo o peso de minhas pernas, depois de um dia de muito trabalho, no momento que olhei para frente dois faróis se aproximaram. Fui atropelado. Mas o que me incomodava era esse estranho no espelho.







- Querido! A pessoa que você atropelou não sobreviveu. Ele não tinha família. Mas cuidei para que fosse enterrado com todos os direitos.



FIM

POR: GUILHERME FERREIRA

O QUE VEM COM O SILÈNCIA



Ela não queria mais saber de sua vida, nem queria ouvir falar de seu passado. Tudo que sabia é que não podia levar consigo nem mesmo a esperança de um dia talvez fugir de tudo o que sentia, porque sabia o que morava em seus sentimentos.

Ana não sabia mais há quanto tempo estava sentada no chão, perto de sua cama, o lugar, o único lugar em que se sentia segura pelo menos por alguns momentos. Já estava cansada de tentar mudar as coisas e ser uma pessoa como todos queriam que ela fosse. Ninguém via seus reais sentimentos, sua raiva e magoa escondida por trás do rosto tantas vezes belo, mas muitas vezes mais, marcado pela indignação e fúria. Ninguém levava seus problemas a sério, para todos eram apenas bobagens, mas ela sabia que não eram... Eles não tinham visto o que ela viu. Tentou contar o que havia visto e foi chamada de louca pelos poucos amigos que julgava ter.

Lembrava bem da primeira vez em que isso havia acontecido. Estava no mesmo lugar, perto da cama quando notou que tudo era silêncio. Não ouvia mais os sons normais da cidade. Era como se estivesse no vácuo, sozinha no universo. Apreciou aquele momento sem pressentir o que viria.

No meio do mais absoluto silêncio ela olhou em direção a sua cômoda, onde havia tantos livros, seu único laço com o mundo real, e o que ela viu a deixou horrorizada. Pairando sobre seus livros havia uma espécie de demônio, algo inominável, maléfico. Nem tentou gritar, sabia que não sairia som de seus gritos.

Simplesmente continuou a olhar para ele, aquela coisa cinzenta, meio apodrecida em algumas partes que sorria para ela. Depois de um tempo que pareceu muito, o silêncio sumiu, levando com ele aquela criatura.
Mas ela sabia que ele continuava lá, o sentia quando sua raiva parecia querer explodir, tentava se controlar para não o ver.

Naquele instante em que jazia perdida nessas recordações olhou novamente para o lugar em que tanto temia ver aquilo de novo. E ele estava lá, sorrindo, como que se alimentando de toda aquela mágoa que ela sentia ao recordar seus sofrimentos.

E era isso mesmo, Ana notou que agora a criatura antes apodrecida estava quase completa novamente. Parecia mais forte, mais nítida do que na primeira vez em que apareceu.

“Isso mesmo, Ana... sou sua mágoa, sua raiva, sua fúria... eu sou você... nada mais além de você... um dia não restará nada de bom em seus pensamentos e nos tornaremos finalmente um!” Falou o demônio. “Não! Não é verdade! Eu não sou você!” Gritou Ana, cada músculo de seu corpo retesado, recusando se a obedecer a seus comandos.

“Ora, ora, querida Ana... você tem coragem de dizer que seu coração não é assim como eu? Que a única coisa que muitas vezes desejou foi fugir desse mundo? Falta pouco agora e em breve você realizará seu desejo.... Virá comigo para o mundo aonde nasce à raiva e esses pensamentos sombrios.... Estará com pessoas que são exatamente como você, vão compreender seus sentimentos... eles também não sentem nada mais do que raiva” zombou aquele demônio horrendo, e desapareceu, deixando Ana desesperada.

“Só pode ter sido um sonho, um pesadelo sei lá!” Pensou ela. Mas ao olhar-se no espelho em vez de sua face, viu a face daquela criatura e então se convenceu de que ele não tardaria a busca lá. E desde então Ana não teme nada mais além do silêncio, porque sabe que quando tudo silenciar ele estará de volta..

POR: ANDRESSA SARNIK

BONS DE ESTÁDIOS_TONY DURAN

UNIDOS PRA SEMPRE_WIB