terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A caminho com Maiakovski



Poema de Bertold brecht

Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se esconderam;

pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles

entrou sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz, e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada
 
 
Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror.

Os humildes baixam a cerviz: e nós, que não temos pacto algum

com os senhores do mundo, por temor nos calamos.

No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces

e eu fantasio um levante; mas amanhã, diante do juiz, talvez meus lábios

calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.
 
 
Olho ao redor , e o que vejo, e acabo por repetir, são mentiras.

Mal sabe a criança dizer mãe, e a propaganda lhe destrói a consciência.

A mim, quase me arrastam, pela gola do paletó

à porta do templo, e me pedem que aguarde, até que a Democracia

se digne aparecer no balcão.

Mas eu sei, porque não estou amedrontado

a ponto de cegar, que ela tem uma espada

a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra

é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.
 
 
Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio.

Mas no tempo da colheita

lá estão e acabam por nos roubar

até o último grão de trigo.

Dizem-nos que de nós emana o poder

mas sempre o temos contra nós.

Dizem-nos que é preciso defender nossos lares,

mas se nos rebelamos contra a opressão

é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo.

Por temor, aceito a condição de falso democrata

e rotulo meus gestos com a palavra liberdade,

procurando, num sorriso, esconder minha dor

diante de meus superiores.

Mas dentro de mim,

com a potência de um milhão de vozes,

o coração grita - MENTIRA!