terça-feira, 31 de agosto de 2010

O ESTRANHO



O som era alto suficiente para estourar meus tímpanos. A dor rasgava meu estomago. Dor essa, ardente, que durou alguns segundos. Depois a calmaria. O calor iniciou lentamente subindo por minha coluna vertebral. A visão foi se desligando, assim como os outros sentidos. A claridade tomou conta, luz branca refletia com intensidade. Em minha cabeça, atordoada, a única coisa em que me agarrava era que havia morrido. Não imaginava o que teria acontecido. Não sentia nada, apenas enxergava a luz branca por todos os lados. Com os sentidos apagados e sem sentir dor, percebi que algo agora divergia. O branco ficou amarelado, o amarelado virou vermelho e do nada o vermelho escureceu.





A luz retornou, assim como a dor. Sentia minhas pernas latejando. A dor ia e voltava mantendo o ritmo. A diferença na luz agora era gritante. A cor branca havia se transformada em azul. Mas com uma tonalidade mais real. Identifiquei o teto de um quarto. A cama era confortável e logo percebi que estava em um hospital, pois, ao meu lado, havia outros leitos, alguns vazios.





Ela era linda, cheirava a rosas e tinha uma voz perfeita, me acalmava. Achei estranho, pois parecia que ela me conhecia. Adoraria ter conhecido aquela que era a mais bela de todas. Nunca fui de muitas garotas. Algumas das poucas que pude me aproximar eram garotas de programa. Essa, sem duvida, tinha a beleza que qualquer homem sonharia em desejar.





Minha voz não saía. Apenas escutava ela pronunciar algumas palavras ao meu encontro.





- Querido! Senti tanto medo. - uma lagrima escorreu por seu rosto. - Pensei que iria te perder.





Não esperava ouvir isso. Ela pensa que eu sou seu marido ou algo parecido. Que estranho! Ela deve estar maluca.





- O médico falou que você pode me escutar. Mas que pode ter perdido a memória. Isso tudo é passageiro. Você vai melhorar.





Assim o tempo passou e eu fui melhorando. Minha voz ainda não havia voltado. Os médicos acreditavam que isso era questão de tempo. Já podia caminhar e os médicos me liberaram.





- Vamos, querido! Não vejo a hora de chegarmos em casa.





Tudo estava estranho e confuso. Ela realmente pensava que era seu marido. Olhei para o lado e pela primeira vez, depois do despertar, me deparei com um espelho. Nele alguém completamente desconhecido. O olhar confuso me atormentou. Neste momento senti um calafrio e lembrei de tudo.





Estava voltando do trabalho. Era terça feira. O ônibus da empresa havia me abandonado no meio da estrada próximo de minha casa. Andava sentindo o peso de minhas pernas, depois de um dia de muito trabalho, no momento que olhei para frente dois faróis se aproximaram. Fui atropelado. Mas o que me incomodava era esse estranho no espelho.







- Querido! A pessoa que você atropelou não sobreviveu. Ele não tinha família. Mas cuidei para que fosse enterrado com todos os direitos.



FIM

POR: GUILHERME FERREIRA

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